sexta-feira, 4 de junho de 2010

Meia-chave

Escrever o que? O que escrever?
Subta vontade me ressurgiu.

A fênix do papel e caneta
com ausência criativa.

Passada a queda do precipício
não há mais nada a ser dito.

Amores almejados,
inalcançáveis esquecidos.

Vida mostrou-se ávida
e sugou toda energia possível.

Bifurcações das escolhas,
uma permanece anônima.

Toda fênix emerge das cinzas,
esta morta não está.

Desmotivada e tímida
suas marcas quer esconder.

Vergonha de nas chamas
ter morrido, passiva.

De reaparecer diminuta
dos seus próprios restos

De para sempre ser
idolatrada fênix.



sábado, 27 de março de 2010

Alforria

Paraíso desabou em água
Água benta
Não se preocupou com nada
Cabelos ou roupas
Livros ou resfriados
Sorriu iluminada sem razão alguma
Gotas que lavavam a alma
Agora leve como nunca

Cansou de viver pela metade
Cansou de amar pela metade
Cansou de não saber nada
Cansou do supérfluo e superficial
Cansou de cantar e não sentir
As suaves letras das músicas
Quando o fez, se deliciou
Com o novo que é obsoleto

Escutou a música pingante
Melodia tão bela
Pés inquietos dançaram
Olhares de repreensão
Talvez porque desdenharam
Somente eu naquela rua
Tinha a alma leve
Naquele dia de chuva

domingo, 31 de janeiro de 2010

Abstinência

Sonhei com seu beijo.
Me encontrei imaginando você e um buquê de rosas na minha porta.
Pensei que queria todos os bons momentos de volta,
imediatamente entendi que eles não seriam nada sem os ruins.
Percebi que menti ao dizer pra mim mesma que esquecer você seria fácil
e que era verdade quando eu te disse que não saberia viver sem você.
Entendi que não poderia te ter de novo.
Perdi você.
Foi ai que senti uma tímida lágrima escapar.
Sinto falta do seu toque, sua mão caminhando carinhosamente em mim.
Daqueles momentos que você tentava segurar um sorriso em vão.
Dos traços do seu rosto, contorno da sua boca, sua pele, seu olhos.
Do seu cabelo sedoso e da sua maneira de mexer nele.
De ficar admirando sua mão, ainda que você se irritasse.
De te ouvir me elogiando, ainda que eu discordasse.
Da sua voz, com a qual você me dava sermões que eram pelo meu bem.
Dos seu braços, fortes na medida, que me envolviam com um abraço de saudade
capaz de acalmar o mundo e tudo que há nele.
Daquele olhar silencioso e silenciador, recheado de amor recíproco
Do teu cheiro, da tua preocupação, do teu cuidado, de tudo.
Sinto falta de você inteiramente.
Esta é a carta que eu nunca te enviei
e que não devo enviar.
Não quero te esquecer, mas não posso viver só de você.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Suicidio assistido

Deixe-me cantar até minha voz acabar
Deixe-me tocar até meus dedos sangrarem
Deixe-me andar até não conseguir ficar de pé
Deixe-me chorar até não conseguir mais ficar acordada
Deixe-me jogar até não ter mais um centavo
Deixe-me beber até não saber o que estou fazendo
Deixe-me escalar até não conseguir não cair
Deixe-me comer até por tudo pra fora
Deixe-me nadar até que eu me afogue
Deixe-me dançar até ficar fora do compasso
Deixe-me beijar-te até minha boca secar
Deixe-me sentir saudade da vida que eu nunca tive
Deixe-me plenamente viver uma vida plena
Agora é hora de variar e morrer só depois de ter vivido

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Só de ida, por favor...

Gotas de diamantes brilhando na janela de noite
Os flashes de luz rápidos no túnel do metrô
Alegres e exuberantes sereias de Hidrôlandia
Coelhinhos de chocolates escondidos até a Páscoa
Embrulhos com laços grandes debaixo de pinheiros
Brisas frescas balançando as folhas do coqueiro
Floquinhos de neve caindo na pontinha do nariz
Liberdade dos cabelos soltos na cavalgada
Lua cheia nascendo lentamente no horizonte
Gatinhos malhados brincando com folhas secas
Risadas de crianças bricalhonas no parquinho
Morangos vermelhos com doce açúcar refinado
Negro céu estrelado numa fazenda com um cometa
Picolé de limão num dia ensolarado de verão
Perfume de dama da noite exalando na rua
Céu azul e iluminado com núvens branquinhas
Balões coloridos flutuando céu acima sem limites
Fotos em preto e branco de uma familia unida
Partidas de truco na companhia dos amigos
Nada pedante acontece no muito além do infinito

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Punhalada

Não precisa me menosprezar
Deixa que eu mesma o faça
Com atenção, essas vozes escuto
Nada que deveria importar falam
Permita-me não me desgastar
Ainda que discorde totalmente
E me admira você falar de mim
Se como eu você abaixa a cabeça

O que fazemos faz quem somos
Continuarei a ser quem sou
Continuarei a fazer o que faço
Ainda que não me faça bem
Não fazer o que você quer
Sei que você não me quer bem
Não te cobro, não tenho esse poder
Mas quero de quem me quer

Devia tratar assim como todos
Minha educação não deixa
Muito menos meu altruísmo
Um unânime olhar julgador
Que derruba qualquer gigante
Inconscientes, inconseqüentes
Entrego-me, desisto de acreditar
Na incondicionalidade

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Lição Aprendida

Olhou-me nos olhos, roubou-me um beijo e olhou novamente nos meus cintilantes olhos. Magia, esperança e ilusão tomavam um inocente e ingênuo coração de menina, este que pouco a pouco foi sendo arrancado por quem nele entravam, mas nunca saía ainda que não restasse nada do coração puro corrompido. A vida é cruel e rígida, mestre no oficio de lecionar. Foi com ela que aprendi a amar na medida para poder praticar futuramente com você. Olhou-me nos olhos com mais afeto do que antes, roubou-me outro beijo, porém mais suave desta vez e me olhou de volta esperando com a ansiedade de uma criança que eu correspondesse igualmente. Pena que agora sou inume a você e seus jogos escorregadios. Não faria por você o que deixou de fazer por mim. Demorei, mas entendi. Não vou ser mais uma vítima iludida, agora eu sei que contos-de-fadas não existem e não adianta esperar que seu príncipe encantado corresponda com o mesmo amor. Ainda que não existam essas tais histórias mágicas, ninguém nos impede de sonhar, mas sem misturar realidade com faz de conta.